Enfim, o mundo está retornando boa parte das atividades habituais após dois anos de pandemia. Ainda estamos em um período de cuidados, mas de forma geral já é possível entender como será o normal daqui para frente, com muitas transformações desde 2020. O mercado de trabalho passou por adaptações inevitáveis e, agora, está enfrentando mudanças por escolha própria — tanto dos empregadores quanto dos profissionais. O que esperar dos próximos tempos agora que o mundo descobriu novas maneiras de trabalhar?
Em primeiro lugar, não há como não falar do modelo remoto. Segundo uma pesquisa da empresa de recrutamento Robert Half, 91% dos entrevistados aceitariam trabalhar à distância em empresas de outras cidades, estados ou países, e 76% já não veem esse modelo como um benefício, mas sim como um modo de operação. Dentro desse último grupo, 38% dizem estar dispostos a buscar um novo emprego caso seus empregadores atuais não considerem permitir o trabalho remoto de forma alguma, nem mesmo parcialmente.
Ou seja, para as empresas em que isso é possível, vale investir ao menos em um modelo híbrido de trabalho. Ainda que não seja para todos, muitos profissionais se apegaram às vantagens do home office nos últimos anos e não veem mais sentido em voltar ao escritório para realizar as mesmas atividades. O mesmo funciona ao contrário: diversas empresas encontraram nesse modelo a melhor maneira de atuar e, por isso, agora conseguem contratar colaboradores de qualquer parte do Brasil e do mundo. Portanto, ficar de olho em vagas além da própria região é uma dica valiosa.
Também existe uma tendência de flexibilidade que envolve vários pontos do trabalho, desde o tipo de contratação até horários. A Associação Brasileira de Trabalho Temporário (Asserttem) divulgou que, no ano passado, houve um aumento de 31,5% de admissões em empregos temporários em relação ao ano anterior. Há também tendências apontando para o crescimento da autonomia, com trabalhadores freelancers fechando contratos para funções específicas sem que isso se classifique como relação trabalhista.
Outra tendência é a terceirização, intensificada pela flexibilização de contratos e as mudanças trazidas pela Reforma Trabalhista, em 2017, que tiveram inúmeros impactos sobre o mercado de trabalho brasileiro. Desde a Reforma, o número total de Microempreendedores Individuais (MEI) quase dobrou, passando de 7 milhões para mais de 13,5 milhões em fevereiro deste ano. Além disso, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 22% dos brasileiros com emprego formal são funcionários terceirizados.
Mais um ponto de atenção é a qualificação profissional, que vai desde a formação técnica até as habilidades pessoais chamadas de soft skills. O Guia Salarial de 2022 da Robert Half mostra que quase 70% dos executivos preveem mais dificuldade em encontrar os melhores profissionais. 49% deles também temem perder seus colaboradores de destaque e 48% percebem um aumento no turnover, em comparação a antes da pandemia.
Isso significa que o mercado está brigando pelos melhores talentos. Qualificação é o mais importante para ser disputado, então vale investir continuamente nos estudos. Já as soft skills mais procuradas incluem criatividade, resiliência, boa comunicação, senso de responsabilidade e empatia.
Por fim, uma tendência de suma importância que pode (e deve) se manter pelos próximos anos é a preocupação com a saúde mental dos trabalhadores. A pandemia evidenciou a relevância desse tema e fez com que mais pessoas conversassem sobre os efeitos do estresse, da pressão e de outros fatores negativos sobre o bem-estar e a produtividade das equipes. O Guia Salarial também evidenciou o debate: 53% dos líderes percebem que seus times estão mais inclinados a crises de ansiedade, estresse e burnout.
O mercado de trabalho se constrói com pontes sendo erguidas entre empresas e profissionais. Essas tendências só se manterão enquanto fizerem sentido para os dois lados, e é preciso um pouco de comprometimento de ambos para encontrar as melhores condições. No fim, esse é o objetivo maior: depois de tudo pelo que passamos, todos queremos trabalhar com mais tranquilidade e termos qualidade de vida para aproveitar os momentos dentro e fora do expediente.
*Manoel Valle é presidente da Associação Brasileira de Provedores de Serviço de Apoio Administrativo (Abrapsa)