*Por Carmem Granja

Como reflexo da luta, já centenária, por igualdade entre homens e mulheres, é crescente a participação do sexo feminino no campo da contabilidade, que tradicionalmente era domínio masculino. De acordo com a pesquisa realizada pela International Federation of Accountants (IFAC), organização global que representa a profissão contábil, a participação das mulheres no setor aumentou significativamente nos últimos anos. É bom lembrar que a Ifac é presidida por Asmâa Resmouki, originária da região da África-Oriente Médio e terceira mulher a comandar a instituição, ficando no cargo até novembro de 2024. 

Segundo a entidade, estima-se que as mulheres representam cerca de 50% dos profissionais contábeis em todo o mundo. Esse crescimento reflete, mesmo considerando-se os desafios que ainda são muitos – como a presença feminina ainda bem menor em cargos de lideranças – a luta pela promoção da igualdade de gênero e da diversidade no âmbito contábil. 

No contexto nacional, observamos aumento notável na representação delas. Segundo dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), mais de 43% dos registros de profissionais ativos nos conselhos regionais são de mulheres. E mais: 11 estão à frente dos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) em todo o Brasil. 

Um dos fatores que contribui diretamente para tal cenário é o aumento da participação feminina nos cursos de Contabilidade. O Censo da Educação Superior, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revela que, em 2020, por exemplo, elas representaram aproximadamente 59% dos estudantes matriculados em cursos de Ciências Contábeis no país. Constatou-se que os estudantes de Ciências Contábeis eram, em sua maior parte, do sexo feminino, tanto na modalidade de Educação a Distância quanto na de Educação Presencial (respectivamente, 59,6% e 59,0%). As estudantes, no segmento mais jovem, até 24 anos, constituíram 12%, na Educação a Distância e 27,8%, na Presencial.

Quando analisamos especificamente o  setor contábil que atua no modelo de  Business Process Outsourcing (BPO) não é diferente: elas formam ampla maioria, com 68% do pessoal empregado, de acordo com dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), que serviram de base para o Panorama de Serviços de Apoio Administrativo realizado pela Associação Brasileira de Provedores de Serviço de Apoio Administrativo (Abrapsa) e analisados pelo professor Victor Pelaez, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

O dado ganha ainda mais peso quando olhamos para o tamanho da contabilidade dentro do BPO. Segundo os números do Panorama, é a segunda maior área, ocupando 26% das cinco componentes que são Serviços Combinados de Escritório (50%), Consultoria em Gestão Empresarial (12%), Preparação de Documentos (12%) e Consultoria e Auditoria Contábil e Tributária (2%). 

São números encorajadores que demonstram que as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço na contabilidade, trazendo suas habilidades e perspectivas únicas para a profissão. Não há dúvida também que é preciso  continuar avançando, afinal a  presença feminina no segmento contribui para um ambiente mais diversificado e inclusivo, convergindo para melhores resultados financeiros e tomadas de decisões mais eficazes.

*sócia do JF Granja Contabilidade e diretora de Expansão da Associação Brasileira de Provedores de Serviço de Apoio Administrativo (Abrapsa).